quinta-feira, 15 de maio de 2008

apocalipse em 2012

Estudiosos do calendário maia acreditam que o mundo vai acabar em quatro anos; Terremotos no Brasil e degelo polar seriam sinais dos tempos

por Adriana Küchler, da Revista da Folha, em 20/4/2008

Daqui a quatro anos, o Sol vai se aproximar tanto da Terra, ou suas explosões serão tão fortes, que os satélites derreterão. Sem telecomunicações, serviços bancários ou segurança militar, o mundo caminhará para o caos. Para os maias, uma grande mudança aconteceria em 2012. Para seus seguidores, que fazem do calendário da antiga civilização uma bíblia, aquele não será apenas o ano da Olimpíada de Londres ou aquele em que expira o Protocolo de Kyoto. Será o ano do fim do mundo. Pelo menos, assim como o conhecemos.

O apocalipse tem data marcada: 21 de dezembro de 2012. É o que indicam os estudos de pesquisadores como o americano John Major Jenkins, autor de "Maya Cosmogenesis 2012" e de um programa em três CDs chamado "Unlocking the Secrets of 2012" ("Desvendando os Segredos de 2012"), ambos inéditos no Brasil. O dia do fim desta era, segundo os estudos de Jenkins, coincide com um raro alinhamento galáctico que acontece a cada 26 mil anos. "O antigo calendário identifica a razão de tanto caos e mudança no mundo hoje. Nenhuma outra ciência, religião ou filosofia teve sucesso nessa tarefa", diz Jenkins.

A onda 2012 vem crescendo: nos EUA, é tema constante de programas de TV e de rádio. Na livraria virtual Amazon, há centenas de obras relacionadas com o tema, de diferentes teorias sobre a profecia a guias de sobrevivência ao ano cabalístico. Por aqui, há grupos de discussão reais e virtuais, cursos e livros sobre o tema e até work-shop em festa trance.

A funcionária pública Denise Franco Gehring, 50, entrou no clima e está treinando seus dons telepáticos e a capacidade de "fazer coisas sem energia elétrica até 2012". Já vislumbra algum progresso. "Outro dia, meu celular ligou sozinho para o meu namorado. As coisas vivem aparecendo na minha frente na hora em que preciso delas", diz. Ela faz parte do grupo de estudos do calendário da paz -uma variação do maia- da Casa de Cultura de Santo Amaro.

Denise influenciou o filho Pedro, 22, estudante de engenharia. Há dois anos, ele começou a se dedicar a conhecer a cultura maia. "A situação do planeta está piorando. Vai acontecer um cataclismo", afirma. "Diante disso, o calendário se mostra algo profundo. Muitos o seguem, mesmo sem o compreender."

Para o escritor americano Lawrence E. Joseph, que preside o conselho de uma empresa de física de plasma, foi a coincidência entre a física solar contemporânea e a antiga astronomia maia, ambas apontando para 2012 como um ano de potencial devastador, que o levou a escrever o livro "Apocalipse 2012: as Provas Científicas sobre o Fim da Nossa Civilização". "O único ponto de consenso entre astrônomos e físicos é que o próximo clímax solar virá em 2012."

Hecatombe anunciada
Sem confiar nas profecias que via pipocar na internet, Lawrence esteve na Guatemala com dois xamãs que confirmaram seu temor: "2012 seria o nascimento de uma nova e gloriosa era, mas, como qualquer outro nascimento, seria acompanhado de sangue e dor". Para ajudar a evitar ou a reparar os estragos dessa crônica de uma hecatombe anunciada, Lawrence recomenda que as pessoas rezem e meditem e que os governos se preparem para situações de emergência.

Baseada em informações históricas, científicas, mitológicas ou catastróficas, a "2012mania" passa inevitavelmente por outro assunto da moda: o aquecimento global. "Acontecimentos recentes, como tsunamis ou o terremoto no Brasil, que nunca tinha acontecido, têm a ver com esse ciclo", afirma o jornalista e crítico de arte Alberto Beuttenmüller, 72. Primeiro a dar tratamento literário ao assunto no Brasil, com o livro "2012 - A Profecia Maia", Alberto estuda os maias há 37 anos. "À medida que 2012 se aproximar, esses acontecimentos vão ficar mais agressivos."

Para Margarida Fonseca, também integrante do grupo de estudos da Casa de Cultura de Santo Amaro, o planeta ficou doente porque não está seguindo o seu tempo natural. Os seguidores do calendário da paz defendem que todo mundo deveria adotar um sistema de 13 meses (ou luas) de 28 dias. Eles dizem que não é só o planeta que fica doente por não seguir o calendário. "Quem o segue se livra de distúrbios e doenças", afirma Margarida.

Com tantas interpretações, o calendário maia se distancia das origens. "Os maias perceberam fenômenos como solstícios e equinócios e previam eclipses. Tinham um sistema sofisticado de calendário, com maior precisão e menor perda de tempo", explica a pesquisadora do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP Marcia Arcuri, 36.

Os maias fizeram ainda ajustes semelhantes ao nosso ano bissexto, embora o calendário gregoriano (que usamos) só tenha sido instituído 80 anos após o descobrimento da América.

Fim de um ciclo
Mais do que um calendário, os maias possuíam um sistema de folhinhas, o Tzolkin, de 260 dias, e o Haab, de 360 dias mais cinco."Os maias já tiveram três ou quatro mundos ou idades anteriores", diz Eduardo dos Santos, 37, especialista em América Pré-Hispânica no departamento de história da USP. "O ciclo atual começou em 3113 a.C. e termina 5.125 anos depois, em 2012."

Das previsões de Nostradamus ao bug do milênio, passando por profecias, a humanidade se mostra criativa para prever o fim do mundo. Tem errado sempre. Para Jenkins, o problema é nossa forma de pensar. "O apocalipse cataclísmico é um conceito distorcido, derivado da teologia judaico-cristã e do conceito de tempo linear da ciência ocidental."

A pesquisadora Marcia explica que a nossa idéia de cataclismo não faz sentido para os maias. "Para eles, o fim nada mais é do que o começo de um novo ciclo." Segundo ela, recentes descobertas sobre os maias deram espaço para a mercantilização do tema.

Para o professor Eduardo, o calendário maia não tem vigência fora daquela cultura. "A crença no calendário fala muito mais das nossas angústias, insatisfações com o mundo e carências exótico-religiosas do que com o estudo do pensamento maia."

Um comentário:

Jair Marcos disse...

Não seria melhor começarmos a nos unir verdadeiramente, NUM ELO DOURADO, e formarmos uma energia tão poderosa a ponto de evitarmos as piores hecatombes planetárias?!